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Encontro reiterou missão da organização de promover saúde e solidariedade,
combatendo a fome e desigualdade com ciência e cidadania
Mais do que doar alimentos, é preciso nutrir vidas. Reiterando essa missão, o Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul promoveu o 1º Ciclo de Saberes, na sede da FIERGS, em parceria com a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) no dia 26 de setembro. O evento reforçou que o combate à fome vai além da doação: envolve promover saúde, dignidade e conhecimento, integrando ciência e prática social em defesa da segurança alimentar e nutricional de toda a população.
O evento reuniu especialistas de diferentes áreas da Nutrição e da Psicologia em torno de um propósito comum: debater caminhos para promover saúde, segurança alimentar e qualidade de vida a partir de uma visão integral do ser humano.
Mais do que um marco comemorativo aos 25 anos do Banco de Alimentos, o encontro simbolizou o fortalecimento do diálogo entre a prática social e o conhecimento científico — um dos grandes diferenciais da trajetória do Banco de Alimentos. Como destacou a organização, combater a fome não é apenas distribuir alimentos: é também construir ciência, formar profissionais conscientes e disseminar práticas que garantam dignidade e cidadania.
O presidente do Sistema FIERGS, Claudio Bier, que também preside o Conselho de Administração do Banco de Alimentos, fez a abertura oficial do evento, ressaltando que "o que começou como um gesto de solidariedade transformou-se em um dos mais importantes braços sociais da indústria gaúcha, reconhecido pela sua eficiência e impacto".
"Nossa gestão na FIERGS está focada em transformar o presente, mas pensando sempre no futuro. Temos propósito, metas claras e energia para esta jornada. Neste contexto, o Banco de Alimentos tem um papel relevante: não só garante alimentação segura aos mais vulneráveis, mas é um pilar em saúde, nutrição e segurança alimentar", disse Bier.
Nutricionistas Denise Ziegler e Luísa Rihl Castro: Os diferenciais de um projeto que virou referência nacional
A abertura do Ciclo ficou a cargo da nutricionista e doutora em Ciências da Saúde Denise Ziegler, diretora técnica do Banco de Alimentos. Em sua fala, Denise fez um resgate histórico da instituição, lembrando os desafios enfrentados no final da década de 1990, quando ainda não havia parâmetros nacionais para o funcionamento de um banco de alimentos.
“Fomos pioneiros, e isso exigiu ousadia e capacidade de gestão. Trouxemos para o campo social uma lógica de eficiência que era própria do mundo empresarial”, destacou.
Denise também ressaltou dois grandes diferenciais do modelo gaúcho: a relação próxima entre o Banco e as organizações sociais atendidas — algo pouco comum em experiências internacionais — e a integração constante com o meio acadêmico, que permite desenvolver ações baseadas em evidências científicas.
A nutricionista Luísa Rihl Castro, coordenadora do curso de Nutrição da Unisinos e do projeto social Banco de Alimentos pela universidade, complementou: “A cada dia o Banco renova o propósito de promover segurança alimentar para todos. Este evento reafirma nossa missão de semear esperança e conhecimento para um futuro mais justo.”
Raquel Canuto: Desertos e pântanos alimentares nas grandes cidades
A nutricionista Dra. Raquel Canuto palestrou sobre “Desertos e Pântanos Alimentares”, revelando como a geografia do acesso influencia diretamente o estado nutricional das populações urbanas. “Os ambientes influenciam escolhas”, enfatizou.
Desertos alimentares são áreas onde há escassez de alimentos frescos e saudáveis, geralmente em regiões mais vulneráveis socioeconomicamente. Já os “pântanos alimentares” são o oposto: locais com excesso de oferta de produtos ultraprocessados e calóricos, preditores de obesidade e doenças crônicas.
Dados apresentados por Raquel revelam que um em cada três brasileiros vive em desertos alimentares nas grandes cidades — ou seja, cerca de 71,13 milhões de pessoas, de um total de 213,4 milhões de habitantes. Em Porto Alegre, quase metade dos bairros (48,3%) se enquadra nessa situação.
“As feiras livres, que deveriam garantir acesso a frutas e verduras, estão concentradas em regiões centrais — longe de onde estão as pessoas que mais precisam”, observou.
A pesquisadora destacou ainda que a redução dos pequenos mercados de bairro entre 2010 e 2022 agravou a desigualdade alimentar. “Precisamos repensar políticas públicas que levem comida de verdade para os territórios periféricos e ajudem a reduzir as desigualdades em saúde”, concluiu.
Fabiana Magnabosco de Vargas: Ética, ciência e responsabilidade
A nutricionista e doutoranda Fabiana Magnabosco de Vargas, conselheira do CRN-2 e presidente da Associação de Celíacos do Brasil, trouxe à reflexão o tema “Nutrir com Ética: Caminhos para Atuação Profissional Responsável”. Segundo ela, exercer a Nutrição com ética vai muito além de cumprir normas: “É um compromisso diário com a verdade, a equidade e a promoção da saúde em todas as suas dimensões.”
Fabiana ressaltou que o nutricionista deve ser um agente de confiança social, atuando com responsabilidade técnica, sigilo profissional e respeito à autonomia das pessoas. “Nutrir com ética é honrar a missão de cuidar da sociedade com conhecimento, integridade e humanidade”, sintetizou.
Ana Lúcia Czerny: quando a Nutrição encontra a Pedagogia
A nutricionista e psicopedagoga Ana Lúcia Czerny abordou o tema “Educar para Nutrir: o papel da Educação Alimentar e Nutricional desde a Infância”, reforçando a importância de uma integração entre Nutrição e Pedagogia. “É na infância que os hábitos e as preferências alimentares são formados, influenciando toda a vida adulta”, explicou.
Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA), Ana Lúcia destacou os desafios da seletividade alimentar, das sensibilidades sensoriais e da necessidade de uma nutrição personalizada.
Ela defendeu estratégias lúdicas para envolver as crianças, como brincadeiras com frutas, jogos de cores e formas geométricas, que tornam o alimento mais atrativo e ajudam na formação de hábitos saudáveis. “A criança come com os olhos. Uma boa apresentação e o envolvimento das famílias fazem toda a diferença.”
Ana Lúcia lembrou ainda que a boa alimentação é determinante para concentração, desempenho escolar e bem-estar emocional. “É um cuidado com a saúde integral”, concluiu.
Martha Ludwig: a humanização no atendimento em saúde
A psicóloga Dra. Martha Ludwig trouxe uma perspectiva sensível com sua palestra “Ciclos da Vida: Acolhimento e Escuta Ativa”, ressaltando a importância de um cuidado mais humano e integral.
Segundo ela, é importante que os profissionais da Nutrição possam acolher as diferentes fases da vida e compreender o comportamento alimentar como expressão de questões emocionais e sociais.
“Cuidar é também escutar. O acolhimento transforma o vínculo e potencializa as mudanças de comportamento”, enfatiza Dra. Martha, que destacou, ainda, que o atendimento nutricional não deve se restringir a prescrever dietas, mas ajudar o paciente a entender seus próprios comportamentos e estabelecer um novo equilíbrio — envolvendo alimentação, sono, atividade física e manejo do estresse.
Adriana Lockmann: Envelhecer com saúde é possível
Encerrando o evento, a nutricionista gerente do serviço de saúde do Banco de Alimentos, Dra. Adriana Lockmann, apresentou a palestra “Nutrição no Envelhecimento”, na qual abordou o papel da alimentação na longevidade saudável.
Dra. Adriana Lockmann destacou que envelhecer de forma saudável vai muito além de evitar doenças — é um processo de manutenção da capacidade funcional e do bem-estar ao longo da vida. Segundo ela, a trajetória do envelhecimento é fortemente influenciada por comportamentos modificáveis, e a alimentação é o principal determinante desse processo.
Com o aumento da expectativa de vida, cresce também a importância de cuidar da qualidade da dieta. A Dra. Adriana ressaltou que frutas, vegetais, leguminosas, cereais integrais, laticínios e proteínas magras devem estar presentes diariamente, em porções adequadas, promovendo equilíbrio entre energia e nutrientes essenciais. Alimentos ricos em polifenóis e ômega-3, como frutas vermelhas e peixes, oferecem efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e cardioprotetores, contribuindo para a prevenção de doenças crônicas e o fortalecimento cognitivo.
A especialista alertou ainda para a relação entre desnutrição e sarcopenia, condições que reduzem a força muscular e aumentam a fragilidade. Por outro lado, a obesidade e o excesso de alimentos ultraprocessados também elevam o risco de doenças cardiovasculares e metabólicas.
Outro ponto enfatizado foi a importância da hidratação e do aporte adequado de vitaminas e minerais, especialmente cálcio, vitamina D, magnésio e B12, fundamentais para a saúde óssea, imunidade e função neurológica.
Dra. Adriana reforçou que a nutrição, quando aliada a hábitos saudáveis, é uma poderosa ferramenta para transformar o envelhecimento em uma etapa plena e ativa. “Nutrir-se bem é investir em autonomia, qualidade de vida e longevidade”, concluiu.
Equipe de Nutrição e Saúde do Banco de Alimentos